MAIS CIVILIDADE, POR FAVOR

Veja BH 23 de outubro, 2013

É uma questão de educação. Para viver em uma metrópole com quase 2,4 milhões de habitantes, é preciso respeitar o direito alheio. Infelizmente, deparar com figuras que não obedecem às mínimas regras de convivência no dia a dia é mais que comum. Tem de tudo: gente que não recolhe a sujeira do cachorro na calçada, fura fila, joga lixo na rua ou passa o dia nas redes sociais marcando amigos em fotos constrangedoras. A seguir, VEJA BH apresenta 68 situações de indelicadezas, grosserias e infrações que, se evitadas, melhorariam a vida de todos nós.

Carolina Daher

Olha a cachorrada!

Sujeira de cachorro não pode ser uma armadilha para os pedestres. Quando sair para passear com o animal, leve pá e sacola plástica. É um crime contra a cidade não limpar os dejetos do seu bichinho. A falta de educação aumenta o risco de transmitir doenças. “As fezes servem como veículo condutor de larvas de vermes que podem transmitir doenças como o bicho-geográfico, que contamina as areias e os gramados de parques”, explica o veterinário Benjamin da Silva Maciel Júnior, da Clínica Santo Agostinho.

  • O Pátio Savassi é o único shopping na cidade a aceitar a presença de cães, desde que eles fiquem no colo ou estejam presos à coleira. Por ali passam cerca de 150 bichinhos por mês. Mas o bom senso deve falar mais alto quando bate aquela vontade de levar o pet às compras. Não valem raças grandalhonas e agressivas (como rottweiler, dobermann, pitbull, boxer, pastor e fila). “Os animais também não podem frequentar a praça de alimentação” afirma Rejane Duarte, gerente de marketing do centro de compras.
  • Seu cachorro pode ser mansinho, ensinado, uma graça. Mas, solto na rua, ele pode incomodar, sim. Não bastasse isso, a Lei Municipal nº 8198/2001 determina que cães não devem circular com seus donos por ruas e praças sem o uso de corrente e focinheira.
  • As boas maneiras valem não apenas nas ruas. Para quem mora em edifícios, também. Assim que sair do apartamento e entrar na área comum do condomínio, o cachorro deverá estar com coleira e guia. Use o elevador de serviço e, se houver alguém dentro, pergunte se ele não se importa em dividir o espaço. “Ninguém é obrigado a gostar de cachorro, é preciso respeitar a distância”, diz a veterinária Ludmila Vieira, da Maternau. Outro cuidado deve ser sempre optar pela portaria de serviço para entrar e sair do prédio, nunca pela social.
  • Antes de viajar, descole um amigo ou parente para cuidar do seu cachorro. Se não tiver, recorra a um hotel especializado. Sozinho durante um longo período, o cão certamente vai incomodar os vizinhos. “O animal fica muito estressado e pode desenvolver disfunções comportamentais como latir, uivar e chorar excessivamente”, explica o terapeuta canino Humberto Araújo.

No Céu e na Terra

  • Se o voo atrasar, não desconte sua irritação nos funcionários da companhia aérea.
  • Durante o voo, cuidado com o álcool. Nas alturas, o efeito da bebida é mais rápido do que em terra e, assim, os riscos de dar vexame e incomodar os outros passageiros crescem. A consultora de imagem pessoal e comportamental Cristina Gontijo viveu recentemente uma experiência desagradável. Voltando de Miami, um bêbado cantou uma das comissárias e o avião foi obrigado a fazer um pouso forçado em Porto Rico. Ele desembarcou algemado.
  • Mantenha limpo o banheiro (não só do avião, mas o de todos os lugares públicos, como escritórios, restaurantes, bares e museus). Papel e lixo devem ser jogados no cesto. “Não deixe sabonete espalhado e respingos de água no espelho. E seque a pia depois de usá-la”, afirma Cristina.
  • Se o trecho for longo, faça um rápido planejamento do que será usado durante a viagem para não ter de levantar e abrir o bagageiro a toda hora. Diz Cristina: “É muito chato viajar ao lado de uma pessoa que não para quieta”.

Sobe e desce elegante

Não exagere no perfume. Aliás, cheiro em excesso incomoda em qualquer lugar. “Inclusive cheiro de suor”, diz Agni, que recomenda o uso da escada depois de suar a camisa em atividades físicas.

  • A explicação é científica. As paredes de um elevador refletem as ondas sonoras, o que faz qualquer ruído parecer até 50% mais alto. Por isso, ao entrar em um dos 14.000 elevadores em funcionamento na cidade, bico calado. Dois conhecidos podem continuar a conversa até entrar e terceira pessoa. “Depois disso, é silêncio”, afirma Agni Melo, especialista em comportamento e etiqueta social e empresarial.
  • Pelo mesmo motivo, nada de celular. Ninguém é tão importante que não possa esperar até você sair do elevador para ser atendido. Além de ser falta de respeito ao próximo, falar ao celular no elevador é uma manifestação de exibicionismo, insegurança e breguice. Se o aparelho tocar, não diga nem mesmo “Entrei no elevador e daqui a um minuto eu retorno”. Simplesmente não atenda a chamada. Acredite: o mundo não vai acabar por causa disso.
  • Quando o elevador chegar, espere todas as pessoas saírem antes de entrar. “É uma regra geral de circulação”, diz Agni Melo. No desembarque, as mulheres tem preferência. Mas, se o elevador estiver muito cheio, o homem deve ir à frente para abrir caminho.
  • Não segure o elevador enquanto termina a conversa com alguém que não vai embarcar. É falta de gentileza com os que se encontram lá dentro e com os que estão esperando nos outros andares.
  • Ao entrar, diga bom dia, boa tarde ou boa noite. “Quem chega tem a obrigação de cumprimentar os que estão presentes”, afirma Agni.

Sobre quatro rodas

Calçadas não são estacionamento. Antes de largar seu carro lá, pense nas dificuldades que isso pode trazer para uma mãe com um carrinho de bebê ou para uma pessoa com dificuldades de locomoção.

  • Respeite o sinal amarelo. Ele indica que você deve desacelerar e parar o carro, e não acelerar e ultrapassar o vermelho. De janeiro a junho deste ano, deste ano, 123.878 multas foram aplicadas só para os apressadinhos que furam o sinal.
  • A faixa de pedestres existe para que eles consigam atravessar a rua. Jamais pare sobre ela, mesmo em horários de pouco movimento. E, como pedestre, evitar atravessar fora dela. “Muitas vezes, quem está a pé se acha o dono da rua”, afirma Maria Cecília Lopes de Abreu, coordenadora de educação de trânsito do Detran / MG. “É difícil dirigir no Centro porque as ruas são tomadas por pessoas.”
  • Buzinar no congestionamento não vai fazer com que o carro da frente levante voo e abra caminho. “Com certeza isso aumenta o stress do motorista e de todos que estão ao seu redor”, diz Maria Cecília.
  • Nunca, em nenhuma hipótese, feche um cruzamento. Isso só aumentará o nó no transito. E não buzine para o motorista da frente que, civilizadamente, respeitou as regras e não o fechou.
  • Não pare em fula dupla, principalmente se estiver deixando o seu filho na escola. Os pais devem servir de exemplo e, respeitando as regras, educar um futuro condutor.
  • Não estacione na vaga de deficientes físicos se não tiver direito a isso. De acordo com o Detran, das 767.645 multas expedidas de janeiro a junho deste ano, 153.743 foram por estacionamento irregular. “Muitas infrações estão ligadas à falta de educação no trânsito e poderiam ser evitadas”, constata Maria Cecília.
  • A ambulância que passa com as sirenes ligadas não serve como batedor para lhe abrir caminho no congestionamento.
  • Respeite o acostamento para carros avariados e ceda sempre a passagem a ambulâncias, bombeiros e carros de polícia.
  • Reza a lenda que belo-horizontino não sabe dar seta. Se você é assim, comece a usá-la. O carro de trás e mesmo o pedestre à sua frente não tem como adivinhar quais serão seus próximos movimentos.

Com o celular

  • Atente para o lugar que você está na hora de atender o celular, bem como para o volume de sua voz. Ninguém precisa ouvir a conversa. No escritório, sobretudo, recorra ao vibracall. Toques espalhafatosos como Show das Poderosas, da cantora Anitta, podem queimar o seu filme.
  • As capinhas que protegem o celular também devem ser escolhidas com bom senso. Se você é um executivo, passe longe das estampas e muito coloridas. As mulheres devem evitar as com brilho, cobertas por strass.

Na hora da diversão

Sempre fique em silêncio durante uma peça, concerto ou filme. A condição essencial para ouvir uma música é o silêncio. “Comentários atrapalham o ambiente por completo”, diz a pianista Berenice Menegale, diretora da Fundação de Educação Artística.

  • Um grave pecado cometido ao celular é usá-lo como câmera, vício terrível que assola as plateias das casas de espetáculos. “É falta de respeito não só com as pessoas que estão ao seu lado, mas também com os artistas”, afirma Maria do Carmo Guimarães Pereira, fundadora da escola de etiqueta Maria Arte e Ofício.
  • Nada de ficar teclando no meio do filme, peça ou show. A cantora Madonna cometeu a gafe no início do mês, em Nova York. Foi expulsa da sala e banida dos cinemas americanos até se desculpar. Que feio!
  • Em um show ou concerto, a pior coisa é um espectador querer dar o próprio solo. “Os músicos ali não estão pedindo a sua participação, e sim que você se concentre na apresentação deles”, diz Maria do Carmo.
  • Por maior que seja a fila, nada justifica desrespeitar quem chegou cedo para garantir um bom lugar. Se entrarem na sua frente, não tenha medo de reclamar. Sempre com gentileza, claro. O mesmo vale para quem adora esparramar bolsas e casacos nas cadeiras para guardar a vaga do amigo que chegará em cima da hora. Maria do Carmo lembra o óbvio: “Bolsa não é gente e não tem direito a assento”.
  • Respeite o horário. É irritante ver um atrasado trombando com as cadeiras no escuro. “Não proibimos a entrada, mas tentamos educar o público para que ele seja pontual”, diz Milena Andrade Pedrosa, gerente do Sesc Palladium.
  • Em concertos, aplaudir na hora errada é um mico sem precedentes. Para não correr esse risco, leia previamente o programa e espere as palmas ganharem força para, só então, acompanhar a maioria.
  • Ruídos que todos odeiam: lata de refrigerante sendo aberta, croc-croc de amendoim e plástico de embalagens de doces. Barulho de beijo melado e declarações de amor também não são bem-vindos. “As pessoas deviam desligar seus celulares e seus excessos quando entrarem no cinema ou no teatro”, recomenda Maria do Carmo. Mãos dadas, tudo bem. Nunca sai da moda quando o assunto é viver um romance no escurinho.
  • Pipoca pode? Se for um filme policial, cheio de explosões e tiros, é pouco provável que o barulho das mastigadas seja ouvido. Mas o mesmo não vale para uma fita mais intimista, repleta de cenas silenciosas e pausas reflexivas. Em qualquer ocasião, ficam proibidos lanches com odores fortes. E sempre carregue seu lixo com você depois da sessão.
  • Se não tiver se sentido bem, fique em casa. Caso seja a ópera ou concerto que você mais ama, sente-se nas ultimas fileiras. “Se você tiver um acesso de tosse no meio de uma apresentação, retire-se do ambiente para não atrapalhar os demais convidados”, diz Berenice.
  • É muito deselegante sair antes do fim, ainda que isso ajude a evitar esperas longas no estacionamento. Só depois que o maestro deixa o palco é que se pode ir embora, por exemplo. “uma forma de retribuir a apresentação do artista é com os aplausos”, acrescenta Berenice.

Nos bares e restaurantes

Fumar, só em áreas permitidas. Mesmo ao ar livre, jamais acenda um cigarro à mesa enquanto alguém estiver comendo. O cheiro do charuto incomoda até mesmo os fumantes de cigarro.

  • Respeite o ouvido alheio e baixe o tom de voz. Em casas que não dispõem de um sistema acústico adequado, a falação pode ficar insuportável.
  • Além de feio, é anti-higiênico deixar o celular em cima da mesa de um restaurante. Com que frequência você limpa o aparelho? Por que, então, ele vai dividir o espaço com a comida?
  • Não reserve a mesa para dez pessoas quando na verdade só irão seis. “E jamais alugue o garçom como se ele estivesse ali só por sua conta”, ensina Daniela Portella, responsável pelo Livro da Sociedade Mineira.
  • Não exagere na bebida. Não deixe que alguns drinques a mais soltem aquele cantor de churrascaria que existe em você. Nunca converse aos berros.
  • Crianças em restaurante, só as educadas. “E que já saibam apreciar uma boa mesa”, diz Daniela. Peça a seu filho que cante a musiquinha que aprendeu na escola – e que você acha linda – em casa. Correr entre mesas está definitivamente proibido. “Os pequenos que fazem birra, melhor deixar no parquinho”, completa Daniela.

Detalhes que fazem a diferença

  • Não jogue lixo nas ruas. Lugar de lixo é no lixo. Diariamente são retiradas 3.680 toneladas da cidade, sendo 103 apenas nas ruas.
  • Enquanto estiver caminhando, segure o seu lixo até achar uma das 16.603 lixeiras espalhadas por Belo Horizonte.

Lembre-se que estamos no período de chuvas e que um dos principais motivos para os alagamentos é o lixo acumulado nas bocas de lobo. A previsão para este ano é que sejam retiradas 5.000 toneladas de resíduos das 60.000 bocas de lobo da capital. Por isso, tenha no carro sempre uma sacola de lixo. Nunca jogue papel ou outros objetos pela janela.

  • Pilote com cuidado seu guarda-chuva quando o trânsito estiver intenso nas calçadas. Mal conduzido, ele pode se transformar em uma arma.
  • Ande de bicicleta nas ruas ou lugares destinados a ela. Jamais na calçada.
  • Não se apoie no capô de carros alheios enquanto toma uma cerveja e papeia com os amigos na calçada.
  • Sempre respeite os caixas preferenciais em supermercados, lojas e bancos.
  • Nos supermercados, não deixe seu carrinho reservando um lugar na fila enquanto acaba de fazer as suas compras. E muito menos dê uma de espertalhão e coloque cada um de seus filhos em uma fila para saber qual vai andar mais rápido.
  • É indispensável no seu vocabulário: bom dia, boa tarde, por favor, desculpe e com licença.

Regras de boa vizinhança

  • Vizinho barulhento é pior do que dor de dente. Para não se estranhar com os seus, evite andar com sapatos de salto, arrastar móveis ou deixar as crianças jogarem bola dentro de casa. “Não faça com o outro o que não gostaria que fizessem com você. Essa é a regra básica da boa convivência”. Diz Leonardo da Mora Costa, sócio do Pacto, que administra cerca de 2.000 condomínios na cidade.
  • Quanto maior é a área de lazer, menores são as chances de uma boa convivência. Um dos principais problemas é quando um morador transforma o condomínio em um clube particular, convidando os amigos para usufruir a área comum. “Todos têm os mesmos direitos, e um deles é o de um vizinho se sentir incomodado com pessoas estranhas”, afirma Costa.
  • A Lei municipal nº9505/2008 estabelece o limite de 70 decibéis (o equivalente ao ruído de uma máquina de lavar roupa) no horário das 7 às 19 horas. Das 19 às 22 horas, o limite é de 60 decibéis (o índice registrado numa conversa normal). Já entre 22 horas e meia-noite, o indicador cai para 50 decibéis (o correspondente ao barulho da chuva). A partir de meia-noite, o máximo permitido é 45 decibéis (som produzido por uma aparelho de ar condicionado).
  • Seu prédio possui vagas fixas para estacionar? Use a sua, e só a sua, tendo o cuidado de parar rigorosamente dentro das faixas. Carro torto obriga os outros a se desdobrar e fazer mágicas na área de manobra.
  • Um morador está de saída, mas há outro com carro o embicando na entrada da garagem. Quem deve ceder? “Não há uma legislação para isso”, explica Maria do Carmo. O que vale é o bom senso. A preferência é de quem está chegando. Afora a questão da segurança, isso evita que o veículo atrapalhe o movimento na rua.
  • Por incrível que pareça, ainda há quem jogue lixo, bituca de cigarro e outros objetos pela janela do apartamento. “É raro acontecer, mas temos um regulamento interno que prevê multa de 700 reais”, conta Ronaldo Gomes Ribeiro, síndico do condomínio Le Saint Paul, em Lourdes. “Se houver reincidência, o valor da multa dobrará”.
  • Carrinhos de compras não sabem apertar botão e nem andar sozinhos. Quem nunca quase perdeu a cabeça ao se deparar com um deles abandonado dentro do elevador? O mínimo que se pode fazer é devolvê-lo ao local de origem depois de utilizá-lo.

Educação em tempo modernos

Cuidado com os celulares que enviam e recebem e-mails.  Eles podem roubar a sua atenção e deixar seu convidado com cara de tacho enquanto você resolve questões que poderiam ficar para depois. “A presença física é sempre a mais importante”, afirma Agni Melo. Por isso, só atenda o celular ou responda suas mensagens quando estiver sozinho.

  • Não encha a caixa postal alheia de e-mails. Sobretudo, os inúteis. Você achou linda aquela animação com musiquinha e fotos fofas? Muitas pessoas da sua lista podem discordar.
  • O mesmo raciocínio se aplica às correntes que costumam ser repassadas para um sem-número de pessoas – de alertas sobre supostos golpes e teorias conspiratórias.
  • Os fones são proibidos no ambiente de trabalho. Em lugares fechados, nada de volume alto. Quem está por perto não precisa ouvir a música com você.
  • Redes sociais só devem ser usadas nos momentos de folgas. E nada de fotos comprometedoras ou frases reveladoras do tipo “Segunda-feira, que saco” ou “sexta-feira, vou beber todas”.
  • Sabe quando você faz uma foto incrível e marca todos os seus amigos? Não faça isso nunca mais. Também não vale marcar alguém sem seu consentimento. Poucas sensações são piores do que abrir o Facebook e dar de cara com uma foto em que você aparece numa situação constrangedora postada por um amigo. E pensar que seus filhos, mulher, chefe e colegas de trabalho também viram.

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